O EMPODERAMENTO DOS CACHOS

20 mar
Por Suelen Araújo

Durante anos, sim anosssss, os cachos foram discriminados, não importava a região, raça, religião simplesmente não eram aceitos na sociedade. Essa sociedade movida por modismo de outros países, onde os cabelos lisos e de tons mais claros eram bem visto e aceitos em qualquer lugar.

Anúncios de emprego exigiam boa aparência e qualificação, mas os cachos… sinto muito, ou você alisa ou não fica na vaga. Em alguns casos nem era proposto a mudança, dit chapsimplesmente era visível o olhar de estranheza do recrutador para a dona dos cachos, esta que na maioria das vezes, se sentia inferior em relação as demais candidatas donas de cabeleireiras lisas por naturalidade ou tratamento químico. Os parceiros dos salões de beleza conhecidos como secador de cabelo e chapinha ou prancha, ainda não tinham sido criados.  Então se recorria para o bobes com a aquela imensidão de grampos, além dos cremes para reduzir o volume e armar o cabelo. Em casos mais comuns, os cabelos eram alisados por meio de ferro de passar roupa, bastava encostar a cabeleira na tábua e pronto, começava o processo de sofrimento com risco de queimadura no rosto, e fragilidade nos fios, mas naquela época o importante é estar bela, e ser aceita na sociedade.

caheadoAntes da criação das escovas progressivas, definitivas e outros nomes carinhosos que dão ao alisamento, o uso da química era mais intenso.  Então chegou aos salões de beleza secador de cabelo e chapinha, liso, super liso, era assim a produção de cabeleiras.  Mulheres, adolescentes e até crianças foram vítimas de químicas de alto poder de danificar os fios, casos de queimadura do couro cabeludo e queda imediata dos cabelos, sempre havia um caso pra se contar,  mas isso é assunto pra outro post.

Nas lojas de cosmetologia as prateleiras eram fartas de produtos para alisamento e de
forma bem tímida, havia alguns produtos para cachos, era comum o pouco investimento das marcas para esse público. Até o anos 2000 pouco se via nas ruas, na tv aberta anúncios ou pessoas que assumissem seus cachos.  Mas, essa mesma mídia, esse modismo de outros países que traz diversas tendências para o nosso Brasil, que é um país misto de raças e cheio de belezas exóticas trouxe de volta a valorização dos cachos. Foi um booommm, os cachos começaram a ser evidenciados, personagens de novela, jornalistas e dentre outras figuras públicas ou não aumentaram a estima pela rica cabeleira cheia de molas, sarara, farofa, cacho de açai…ah são tantos nomes, alguns até infelizes que não precisa citar.

tais araujo

E pasmem, agora as cacheadas têm uma rica sessão de produtos nos lojas de cosmetologia, supermercados e até no simples mercadinho de bairro. E você sabia que tem uma tabela de tipos de cabelos, começando pelas ondas mais soltas e finalizando com aqueles cachos bem anelados de fina espessura.

A linha infantil também foi beneficiada com a criação de produtos específicos para cachos, longe de químicas e descriminação. No passado, as mães aguardavam os pequenos
chegarem na idade de 12 anos, para então começar o  processo de alisamento. Sabemos que havia o bullying na escola, em diversos locais, ainda existe, mas não com intensidade. Por isso que é importante o papel dos pais ou responsáveis orientar e fortalecer a personalidade da criança em valorizar seu biotipo físico.  Assim, teremos adultos bem resolvidos com o emocional equilibrado.

E estamos no empoderamento dos cachos, as cacheadas são visíveis, cada cabeleira farta, e cacheadosainda ganham uns adereços como flores, tiaras, turbantes e alguns fios com luzes. São vistas a longa distância, e sempre são ponto de referência como dizem popularmente: “Reconheci você de longe, por causa dos cachos”. Soltos aos ventos, presos com lenços, e alguns fios elásticos para fazer o coque abacaxi, aquele que fica com as pontas na parte superior da cabeça, que também é usado para dormir, assim evita desmanchar os cachos. Esse renascimento da valorização dos cabelos cacheados provocou o momento de transição de muitas pessoas que há anos, utilizavam químicas, fios cansados, pessoas desgastadas com tratamentos, medo de um vento de chuva e por aí vai.   No inicio é difícil, raiz com  cachos ganhando forma e as pontas finas de químicas, haja  paciência e muita dedicação, mas o resultado é fantástico, as mulheres ficam mais leves e com a beleza natural realçada.

cacho abacaxi

Os cachos ganharam muitos aliados, além das indústrias do segmento, salões de beleza específico para cuidar da juba… E tem gente curiosa que pega em nossos cabelos e dizem pensei que fosse duro, mas é macio. Claro, cuidamos e amamos. Houve a manifestação por meio das redes sociais, blogueiras, facebook, fanpage, youtube e até grupos de whats app, com dicas, orientações de uso de produtos, tratamentos caseiros, enfim um misto de conhecimento e valorização. Os bons ventos estão assoprando para as cacheadas, obaaaaa.

Para quem já passou por algum tipo de discriminação, esse é o momento de você se libertar e fortalecer a autoestima dia após dia, acreditar que você tem uma beleza individual, cuide do que é seu, cuide dos seus cachos, cuide de você.cacheado desenho

Modinhas Irritantes

18 mar

Por As Mimosas***

Mimosos e mimosas, vocês sabem tão bem quanto nós que o breguelê independe de sexo, classe social, religião, orientação política e etc. Vira e mexe surgem modinhas horripilantes que bombam entre fast-fashionistas (como nós, é claro!). Só depois percebemos as tragédias estéticas que idolatrávamos.

Nos anos 80, quando nós nascemos (abafa o caso!), os géis de cabelo gliterizadosdecada_80_refs e coloridos eram o must da garotada influenciada pelos astros juvenis, filmes e bandas. Um mix de pop, punk e new age. Relógios que trocavam as pulseiras, tênis com superfícies removíveis, calças de elanka fluorescente, polainas de tricô, sandalhuxas e pochetes de plástico, pulseiras de mola-maluca e uma série infindável de bizarrices divertidas que deixavam qualquer look bem Tina Pepper. Ainda tinha aquelas ombreiras maravilhosas e manga morcego que nos faziam sentir super empoderadas, hoje quando a gente as fotos …. misericórdia! O empoderamento estava longe de nos tornar uma mulher maravilha.

manga morcego

Hoje, até as blogueirinhas neófitas sabem que os meios de comunicação ajudam na difusão da moda, e pelas redes sociais da internet buscam potencializar – escandalosamente – as tendências ditadas pelas personalidades ou pelas remixagens das periferias. O mercado cria estratégias para nos envolver e estimular desejos de com$$$umo. Tem modinhas pra todos os gostos e possibilidades. Essa expressão “modinha”, aliás, é associada aos produtos criados para o consumo de massa, com releituras das coleções dos grandes estilistas. Geralmente são quase descartáveis e sem qualidade.

Pra sermos bem claras, é aquele tipo de roupas e acessórios que abarrotam as malas das sacoleiras que fazem compras no Bom Retiro e no Brás, a preço de banana (afinal, várias confecções exploram mão-de-obra). Sabemos que muitas comerciantes viajam de Manaussacoleirossss pra São Paulo dizendo que têm fornecedores chiquérrimos na pauliceia, cheios de novidades para atender as necessidade das voluptuosas curvas exóticas da mulher amazonense. Depois, voltam com a propaganda de “looks exclusivos”, e as cabôca emergente (algumas até bem escovadas, com dentes de porcelana, botox, nariz empinado na rinoplastia, bichectomia em dia e doutorado em universidades particulares) pagam fortunas pelas peças, revendidas em boutiques do Vieiralves e dos xópp’s. Oh, coitadas!

Mas, tem modinhas que além de patéticas nos irritam COM-PLE-TA-MEN-TE, como:  aparelhos dentários fakes,

óculos sem lentes e…….

oculos sem armação

 

….a mais nova paixão nacional – o sereísmo

sereismo 3

ops….o sereísmo, agora sim a foto correta !

sereismo acessoriosusar

Dia desses, vimos um bofe escândalo na academia com seu rosto nerd másculo, adornado por um imenso óculos de armação branca. Ficamos instigadas, porque mesmo à distância o olhar do gatão era penetrante –  quase uma visão de raio x do Super-Man. Pensamos que poderia ser uma sofisticada lente antirreflexo. Resolvemos conferir de perto e fomos nos aproximando entre agachamentos e discretos bate-cabelo.  Quando chegamos perto percebemos que a armação não tinha lente. Era só estilo geek. Wall, adoramos a atitude, mas nos lembrou uma criancinha de três anos com seus brinquedinhos performáticos. Broxante!

Perplexidade maior foi reencontrar uma amiga quarentona que ao abrir o sorriso nos brindou com um aparelho arco-íris. Nem precisamos perguntar sobre o adorno dentário, pois ela antecipou-se em dizer que resolvera aderir à moda da curuminzada que usa aparelhos fake para se sentir uma ninfeta. A sensação de vergonha alheia bateu no âmago de nossa alma.

Será que ela não tem noção do ridículo? Pior, seus dentes que já eram mais ou menos agora estão condenados a tortuosidade. Com certeza, em alguns meses terá que usar um aparelho ortodôntico de verdade. Esperamos que, pelo menos, escolha um transparente (se antes não ficar banguela).

sereismo cabelosMas, entre as atuais modinhas o pior de tudo é o tal sereísmo que ganhou força no último verão, principalmente nas praias de Santa Catarina. As adeptas não se contentam apenas em usar roupas e acessórios com referências ou detalhes dos seres fantásticos (metade mulher, metade peixe), mas também investem em caudas feitas de neoprene (o mesmo material usado para roupas de surf) e monofim (que estrutura a nadadeira da cauda) e se aventuram pelos mares, aquários e piscinas.

sereismo

Será que estamos com invejinha? Afinal, nossa infância foi marcada por filmes clássicos da Sessão da Tarde como “Splash” e “A pequena sereia”. Pode ser que sim, atualmente nosso corpicho não cabe numa cauda tão justa! O fato é que já tem até sereia profissional, como Mirella Ferraz, para quem o sereísmo não é modinha nem hobby, mas um estado de espírito e estilo de vida. (Nossa teoria é que ela usou, cheirou e bebeu muita Disney durante a infância, aí deu nisso!).

À propósito, a próxima novela das 9h da Globo, “A Força do Querer”, da autora acreana Glória Perez, será ambientada no Pará, com cenas gravadas em uma comunidade ribeirinha próxima a Manaus. A protagonista, vivida por Isis Valverde, será uma sereia pela segunda vez (lembram da minissérie “O canto da sereia”?).  Pois bem, será que dessa vez teremos referências de Iara, a mãe d’agua? Ou a personagem será uma sereia da mitologia grega, e mais uma vez colonizar o nosso imaginário, como as amazonas que inventaram a Amazônia?

***A coluna “As Mimosas” é uma criação coletiva de ficção, inspirada em fatos do cotidiano, com intuito de usar o humor para provocar reflexões sobre as contradições, preconceitos, inter-relações e interdependências do ecossistêmico mundo da moda.

MIMO CIÊNCIA

13 mar

Um olhar ecossistêmico comunicacional para a “ciênciarte”

Por Rafael Lopes

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Ao nos aproximarmos da órbita dos Ecossistemas Comunicacionais, que não se configura como um conceito formal e fechado, podemos ter a impressão de estarmos perdidos no espaço. À deriva na imensidão do mar. Ou numa densa floresta em busca de uma trilha. Afinal, como é possível pensar e fazer ciência sem a coerência de uma teoria formulada e estruturada com métodos tradicionais, procedimentos práticos, aplicações, resultados que garantam o rigor dos estudos? Sem a credibilidade de um selo que lhe ateste cientificidade?

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Responder a esses questionamentos não é fácil, mas talvez acione o início de um pensamento em cadeia, no intuito de investirmos no empreendimento de construções que talvez nunca sejam finalizadas e mesmo assim não perdermos o prazer de continuar a edificá-las com arte e criatividade. Erguer uma ponte que não leva a outra margem do rio, mas propõe a possibilidade do rio ter uma terceira margem, ou múltiplas pontes para múltiplas margens, ou ainda arquitetar uma casa sem teto, uma universidade sem chão. Mas, ao pensarmos desse modo, será que as pontes serão seguras, as casas habitáveis e as universidades produzirão conhecimento?

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Essas alegorias servem de metáfora para nos sugerir que não há garantias nem segurança. O viés dos Ecossistemas Comunicacionais não pretende se restringir a uma teoria ou a um método fechado, em busca de respostas definitivas.  Assim, ao denominá-lo, nos referimos como sendo uma “ideia” ou uma “perspectiva do olhar”, para a qual, por enquanto, temos apenas pistas, reflexos muitas vezes desconexos. E, possivelmente, sua peculiaridade esteja em se manter desta forma, pois no momento em que tivermos o seu mapa detalhado, poderemos constatar que o baú do tesouro é apenas uma arca vazia e, na frustração, esquecermos que a trajetória foi o mais importante e significativo no processo de descoberta. Desse modo, enquanto um pressuposto que transita articulando diferentes sistemas e saberes, por isso, complexo de se compreender, pode promover experimentações com nuanças impensadas para revestir as polissêmicas superfícies da construção do(s) conhecimento(s).

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A perspectiva dos Ecossistemas Comunicacionais, no entanto, já é uma proposição institucionalizada, haja vista que é a Área de Concentração do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (PPGCCOM/UFAM). Iniciado em 2008, foi o primeiro Programa de Pós-Graduação na área de Comunicação do Norte do Brasil a ser aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Atualmente, suas investigações são guiadas por duas linhas de pesquisa: Redes e processos comunicacionais; e Linguagens, representações e estéticas comunicacionais.

É uma concepção que dialoga com múltiplas conceituações teóricas e campos do conhecimento, propondo articulações sistêmicas, complexas e de imersão sensorial, rompendo a linearidade pragmática das teorias clássicas da comunicação, que analisam o fenômeno comunicativo basicamente num processo emissor-mensagem-meio-receptor e consideram que a comunicação só ocorre quando o receptor compreende o código da mensagem enviada. Numa compreensão ecossistêmica as inter-relações são fundamentais para estabelecer possibilidades de leitura para uma teia comunicativa repleta de nós de interconexões e interdependências.

Se fizéssemos a relação de uma concepção clássica da comunicação com a arte, poderíamos associar o emissor ao artista, o receptor ao observador/fruidor/espectador/ouvinte/leitor etc., e a mensagem à obra de arte, na linguagem em que se manifesta. Nesse sentido tradicional, o entendimento artístico (a comunicação) só existiria se emissor e o receptor partilhassem dos códigos, através dos quais a mensagem fora apresentada, ou seja, só existiria comunicação se o emissor e o receptor compreendessem a linguagem da obra de arte. Entretanto, em nossa concepção, essa possibilidade é limitadora, porque exclui inúmeras outras possibilidades subjetivas e formas de percepção, interpretação e compreensão.

Diante disso, quando propomos uma análise dos fenômenos comunicativos por um viés complexo, percebemos que a comunicação vai muito além da relação funcionalista entre emissor-mensagem-receptor, afinal, estamos tratando de um contexto compreendido por inter-relações e interdependências. Ou seja, além da transmissão e recepção da informação há um intrincado processo de significações e compartilhamento de sentidos, com dinâmicas e ressonâncias que variam conforme as sistemáticas envolvidas.

Para Fritjof Capra o maior desafio é mudar a maneira de pensar a ciência, descortinando uma nova visão da realidade. Segundo o autor, é necessário ultrapassar as noções mecanicistas e reducionistas, que ainda guiam muitas teorias ancoradas no pensamento cartesiano-newtoniano. Capra defende o pensamento ecológico, não concebe os elementos de forma isolada nem os segmenta ou os padroniza. Para compreendê-los é preciso fazer relações por interdependências contextuais, nos mais variados níveis de complexidade e incertezas. É uma perspectiva intrinsicamente dinâmica, capaz de aliar o conhecimento racional com a intuição da natureza não linear do ambiente, entrelaçando seus elementos, em movimentos cíclicos, flutuantes, ondulatórios, vibrantes e oscilatórios.

Para o filósofo Edgar Morin a arte pode ser aliada da ciência. De acordo com o pensador francês, um dos desafios do pensamento complexo é a necessidade de “desinsularizar” o conceito de ciência, pois, a ciência é como uma península em um continente sociocultural onde há muitas outras penínsulas. Morin acredita que há uma dimensão artística na atividade científica e, por isso, é inconcebível que não se estabeleça uma comunicação mútua.

Mesmo diante desta contextualização, possivelmente ainda pairem dúvidas sobre as ferramentas conceituais para auxiliar na compreensão dos Ecossistemas Comunicacionais, ou sobre como essa proposta se articula com outras áreas do conhecimento, ou como evidenciá-la em estudos teóricos e empíricos. Entretanto, como já foi ressaltado, a ideia desse campo emergente da comunicação não é aplicar uma fórmula para encontrar resultados de problemas, mas apontar pistas, trilhas e caminhos.

O que precisa estar claro é que mesmo numa aparente desordem (ou considerando a desordem como regra), existe uma sistematização com critérios científicos. Seu rigor está no vigor de aceitar que mesmo em um sistema aberto ou cambiável há critérios relevantes e recorrentes, que inter-relacionam diferentes elementos e configuram sistemas. Assim sendo, o desenvolvimento da perspectiva ecossistêmica na UFAM, parte de investigações que consideram a complexidade sistêmica e informacional dos fenômenos comunicativos, ao propor estudos sobre os processos de organização, transformação e produção das mensagens conformadas na cultura a partir das interações entre sistemas sócio-culturais-tecnológicos-ambientais. É um campo de estudos que encontrou no contexto amazônico um espaço fértil para a exploração das interferências mútuas entre as diferentes esferas que regem a vida, a comunicação e a cultura.

É uma perspectiva em constante construção e tem ganhado múltiplas propostas investigativas, a partir de diferentes fluxos de compreensão e experiências de pesquisadores dedicados a essa proposta aberta no campo da comunicação, a exemplo dos trabalhos desenvolvidos por pesquisadores como Gilson Vieira Monteiro, fundador do PPGCCOM e de Mirna Feitoza Pereira, com estudos guiados pelo viés da semiótica.

Conceitos e quadros teóricos, a exemplo da Teoria Geral dos Sistemas (Ludwig von Bertalanffy), do Pensamento Complexo (Edgar Morin), Ecologia Profunda (Fritjof Capra), Ecossistema Comunicativo (Martín Barbero), Novo Sensório (Walter Benjamin), Semiosfera (Yuri Lotman), Rizoma (Gilles Deleuze e Felix Guattari), entre outros, tangenciam, inspiram ou incorporam-se ao viés ecossistêmico proposto pelo PPGCCOM que, ao reforçar a suplementação do ambiente amazônico em sua proposta conceitual, apresenta-se como uma abordagem diferenciada das demais.

Para o pesquisador Sandro Colferai, a Amazônia é a própria metáfora de ecossistema comunicacional, já que faz uma leitura do conceito a partir da região. O autor propõe uma aproximação que se articula considerando a corporeidade das relações, as tecnologias, as subjetividades sociais, culturais e o ambiente. Para desenvolver sua tese de doutorado Um jeito amazônida de ser mundo, defendida em 2014 no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), recorreu a conceitos formulados pelos biólogos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana, como: enação, ao considerar a inseparabilidade entre ser humano e natureza; e autopoiese, ou seja, a capacidade dos sistemas vivos e suas estruturas estarem em constante autoprodução e autorregulação, mantendo interações entre seus próprios elementos e na relação com outros sistemas. Também embasou-se no Pensamento Complexo, de Edgar Morin, e na Ecologia dos Saberes, do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, em favor de uma ciência não paradigmática.

Desse modo, Colferai defende que a comunicação se estabelece por subjetividades e materialidades efetivadas entre vivências, contradições e compreensões transitórias, pelas quais o ser humano apreende ao atuar com o meio onde se insere, muitas vezes através de acoplamentos tecnológicos ou de interfaces sensoriais, que também constituem o processo de formação cultural e da codificação de linguagens. À luz de Marshall McLuhan (com a ideia dos meios de comunicação como extensões do homem), Colferai enfatiza que há uma plasticidade favorável à conexão entre ser humano, ambiente e os aparatos tecnológicos. Desse modo, o que vemos, ouvimos e sentimos (seja na experiência real ou virtual, individual ou na interação social, pelas telas de TV, celulares, ipods, jogos eletrônicos etc.) provocam reações no sistema nervoso criando novas conexões neuromusculares e cognitivas, fazendo com que os aspectos biológicos, psíquicos, sociais, do ambiente e o aparato tecnológico tornem-se pontos de conexão em simbiose. É nessa dinâmica que se proporciona a expansão de corpos e sentidos, por atuações diversas e complexas.

A compreensão sobre Ecossistemas Comunicacionais implica ter essa flexibilidade sensorial de percepções, por isso, quem se propõe a pesquisar por esse viés não deve pensar, necessariamente, em uma aplicação prática, mas exercitar a busca de multiplicidades cognitivas, permitindo que a criatividade e os afetos ganhem espaço na produção do conhecimento científico, promovendo uma ciência com arte ou “ciênciarte”.

MULHER: OBRA PRIMA DA NATUREZA

8 mar
Por Daiana Gualberto

foto pintora final

No domingo (05/03/2017), Dri, Rafa e eu fomos conhecer a Feira Urbana de Alternativas (FUÁ). Chegando lá eles me disseram: “Dai, a postagem sobre o evento no blog do MIMO vai ser sua”. Fui tomada por um pequeno receio, mas aceitei o desafio e comecei a fotografar o lugar, analisar tudo ao meu redor e receber as várias mensagens que aquele evento transmitia. Eram tantas vibrações, tanta expressão: músicas, artes visuais, natureza, diversidade de roupas, cabelos e maquiagens, pessoas de diferentes faixas etárias (inclusive bebês de colo), enfim, era um ambiente muito rico de vida.

Depois de muito tempo passeando, fotografando e observando defini que abordaria a questão da Mulher (e isso foi decidido antes de saber que o evento em si tinha, nessa ocasião, a intenção de homenagear as mulheres). Um texto de Camila Oliveira afixado na parede questionava no título “O QUE É SER UMA MULHER?” e eu fiquei com essa pergunta na cabeça. O quadro pintado, por uma mulher, na hora do evento me respondeu: “MULHER É OBRA PRIMA”.

juntar fotos

De fato, mulher é uma obra prima daquelas que sempre tem algo novo para dizer, que sempre pode ser interpretada de outras formas, que tem milhões de significados e desperta vários sentidos. Mulher é um estado de espírito de um ser forte (mesmo que não pareça ser). A força da mulher se expressa na arte, mas acima de tudo se mostra na vida: na resistência e na sobrevivência, nas lutas diárias travadas que toda mulher conhece bem. Essa força da mulher é tão intensa que está a todo momento mudando o mundo e ela mesma, pois a mulher se expande, conquista novos territórios, avança pessoalmente, profissionalmente, socialmente e coletivamente.

A mulher muitas vezes (quase sempre) está associada ao feminino, considerando-se aspectos estéticos, priorizando a “beleza” e, até certo ponto, exaltando certa futilidade, mas a mulher vai muito além disso. A mulher em si já é uma expressão da beleza, mas não da beleza fabricada, e sim da natural.

pole dance mul

Uso como exemplo as mulheres que apresentaram performances no Pole Dance no FUÁ, a movimentação delas demonstrava força, destreza, harmonia, sensualidade, e essas características faziam delas belas, independente do tipo de corpo que tinham, roupa, cabelo ou maquiagem que usavam. A partir disso percebi que um dos grandes atributos da mulher é a maneira como ela se movimenta (e aqui incluo a maneira como ela se movimenta perante a vida).

cabelo rosa dai

Após muita reflexão, resumo da seguinte forma alguns dos meus pensamentos sobre o que é ser mulher…

Ser mulher vai além dos aspectos físicos e anatômicos, envolve características psicológicas, emocionais e sociais. Ser mulher é ser uma força que movimenta a vida, que permite se expandir além de si mesma, possibilitando resistir as adversidades e sobreviver (individual e coletivamente). Ser mulher é uma expressão artística da natureza que possui diferentes e infinitas nuances, que jamais poderá ser plenamente compreendida, pois está em constante mutação, mas que sempre despertará novos olhares, sentidos e interpretações.

Desejo que essa força continue em expansão, resistindo e conquistando novos territórios, vencendo as batalhas diárias, individuais e coletivas. Que as mulheres mostrem o que é ser mulher, mas que também promovam a reflexão sobre quem são e quem querem ser.

FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!

foto dai final

Roupas para homem e para mulher. E as trans?

6 mar
Por Adriano Rodrigues | Daiana Gualberto | Rafael Lopes

Vivemos em uma sociedade com roupas femininas e masculinas rigidamente definidas, como se fosse possível traçar uma linha precisa dividindo os dois grupos. Quando entramos em uma loja de roupas, podemos escolher as vestimentas na seção feminina ou masculina. No entanto, as pessoas que não se identificam com o gênero masculino ou feminino ficam desamparados. Afinal para qual seção vão as pessoas transgêneras?

O ser humano se expressa de diversas formas, através da religião, arte, linguagem e também por meio das roupas que veste. Sobre as roupas que cada um escolhe vestir, percebemos que de algum modo isto se relaciona com a própria identidade e de maneira mais específica com a sexualidade também. Quando um homem ou uma mulher opta por uma saia ou uma calça acaba por revelar muito sobre si mesmo para os outros. A roupa é a pele visível e removível que expressa desejos e fantasias, além de aceitação e inclusão por parte do grupo social a qual pertencemos. Na maior parte do tempo, a roupa e o adorno que usamos estão efetivamente destinados a atrair a atenção do outro.

leticia redimensionado3É caso da transexual, Letícia Alcântara, 19 anos, que sai de casa com o objetivo de causar admiração nas pessoas, ela gosta de ser vista e chamar atenção pelo que veste. Então investe em unhas postiças grandes, pintadas com cores extravagantes, que auxiliam no objetivo dela. Infelizmente, Letícia esbarra no desafio de encontrar roupas deslubrantes que fujam do padrão convencional de tamanhos, formas e cores. Por não existir uma loja destinada a esse público, as pessoas trans acabam tendo que se contentar com as lojas existentes, que nem sempre suprem as necessidades e atendem aos gostos do público transexual. Quem não se enquadra nos perfis convencionais de traje feminino ou masculino têm que aprender a lidar com que está disponível no mercado.

A psicanalista, Letícias Lanz, explica no livro “O corpo da roupa” que a transgeneridade é o fenômeno sociológico de desvio ou transgressão do dispositivo binário de gênero (feminino e masculino), fato que caracteriza as chamadas identidades gênero-divergentes, como transexuais, travestis, crossdressers, dragqueens, andróginos etc, e que faz com que elas sejam marginalizadas, excluídas e estigmatizadas pela sociedade. A palavra “transgênero” acaba sendo uma termo guarda-chuva, que agrupa as pessoas que se travestem da forma que se sentem bem.oie_jpg

Heloísa Michelly, 30 anos, se identifica com o gênero transexual desde os 15 anos, ela capricha na escolha dos brincos, vestidos e na sobrancelha bem desenhada, tudo para
ajudar a compor o look e sair de casa, seja para o trabalho ou pra curtir uma festa. “Manaus e o Brasil não está preparado para algo diferente, aqui falta uma loja que atenda o público transexual. Tudo é apenas para mulher e para homem”, reclama ela, que se inspira na Beyonce para confeccionar as próprias roupas.  Aprender a costurar é uma alternativa para pessoas transexuais que não encontram no mercado roupas adequadas com o perfil desejado.

O que vestimos ou deixamos de vestir é resultado de inúmeros fatores sociopolíticos, econômicos e culturais. A roupa afeta e reflete a percepção que cada um tem de si mesmo. Transexuais estão assumindo socialmente que não se identificam, apenas com esse sistema binário de gênero, vivenciam um processo de construção de identidade social e as roupas e acessórios ajudam a compreender a si mesmos. Por isso, a vestimenta pode ser vista como um agente cultural poderosíssimo, capaz de caracterizar o grupo social com a qual a pessoa se identifica. A ausência de lojas que atendam as preferências de pessoas trans revela uma necessidade do mercado repensar a produção de roupas, afim de suprir a demanda desse público.

Coluna: As Mimosas*

28 fev

Os looks mais aguardados do ano passam pelo red carpet do Oscar. Alta costura, close e muito carão mexem com a nossa imaginação. Em 2017 a opção foi pela elegância, cores nude e estilo cool. O destaque ficou por conta das maquiagens e cabelos modernos. Agora, você já imaginou se as celebridades de Hollywood morassem nos bairros de Manaus? Nas postagens a seguir nossos comentários brincam, ironicamente, com o estilo das personalidades que foram para a festa de um jeito bem regional. Acompanhe!

oscar

Na festa do Oscar 2017, os atores negros deram um show de elegância, atitude e valorização da identidade.O que alias é um belo recado ao atual Governo do EUA. #palmas

Mahershala Ali surgiu como um deus de ébano no red carpet usando um terno alinhadíssimo em verde ultra-petróleo, camisa, sapatos pretos e um minimalista lenço xadrez no bolso. Parece aqueles macho-alfa do Educandos. #delícia #cremoso

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Viola Davis estava deslubrante com um vestido Armani vermelho, destacando as mangas recortadas por faixas desestruturadas e uma carteira dourada em matelassê. O corte de cabelo curto levemente repicado deu um ar contemporâneo ao look dessa representante da Praça 14. 89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Harry Berry, que assumiu os crespos, combinou o despojamento do cabelo com a sofisticação do vestido platinado com uma trama de faixas pretas. Lembra o estilo boêmio da Matinha.

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Já a atriz, Emma Roberts, tentou fazer a linha sustentabilidade com um vestido Armani em tecidos inteligentes e biodegradáveis, no entanto sua expressão facial não era nada ecológica, com um tom blasée, ficou la pra trás do Inpa.

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

A ganhadora do Oscar de melhor atriz, Emma Stone, apostou no nude para não errar. O vestido Givenchy dourado, longo, vintage tinha a pretensão de ser minimalista, mas causou estranheza, além de não contrastar com a pele da atriz, deu a impressão de ter vestido um lustre de cristal do Teatro Amazonas. #malvadas

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Falando em coisa bonita, Chris Evans, o nosso Capitão América surgiu como um raio de luz de azul em seu terno blueSky, camisa branca e gravata butterfly. Como se esse bofe escândalo, de corpo talhado na Cia Atlética do Manauara precisasse de roupa. #delicia

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

A quase desconhecida, Ruth Negga, optou por uma releitura da modelagem império. O look Pomba-Gira pareceu ser uma homenagem a encruzilhada da Av Santos Dumont com Av do Turismo, aqueeele perto do aeroporto #VivaoTerreiro. A mensagem política do look é a fitinha azul em prol dos direitos civis. Pelos justiceiros da Compensa!

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Jessica Biel surgiu com mix Pocahontas (em função do cabelo e do colar) e vestido de colcha de veludo da titia, aqueles poídos de traça. O gostoso, Justim Timberlake, como nos bailes do Municipal deu uma encochada na Jessica, será esse o motivo do sorrisinho? #safadeeenhos justin-timberlake-jessica-biel

Como é época de carnaval, no Oscar teve o bloco dos Botoquiados, comandados por Nicole Kidman, Jerry O’Connell, Kirsten Dunst.

Nicole foi outra que apostou no Nude e ficou sem graca. Tipo as socialites do Adrianópolis.

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Jerry com um riso congelado pelo spray do Coringa, ficou igual os “tiozão” do Parque 10 que se exercitam no CSU.

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Kristen, ainda tão jovem, não precisava recorrer ao procedimento bastava causar com seu glamouroso vestido preto comprado numa daquelas boutiques do Amazonas Shopping.

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Agora direto do bairro Flores, Haille Steinfeld, com seu vaporoso vestido de lençol florido comprado nos populares comércios da Avenida das Flores.

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Direto da feira da Banana, na Manaus Moderna, Leilie Mann, usou e abusou da volumetria, arrematada com um laçarote no busto. #valeuacoragem #simpatissíma

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Com uma cara de safado, Glen Powel, parecia aqueles bofes que circulam nos bares do Vieralves. Sem comentários em relação a roupe dele. Postamos apenas porque ele é um colírio! #maravilhoso #queremos

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Taraji P Henson, conhecida como a truqueira da Sefaz, chegou com uma cara ambiciosa, adornada por um poderoso colar de diamantes. O vestido de veludo azul-meia-noite com decote V anos 60 e fenda sensual na perna não escondeu a diferença dos 300 ml de silicone do seio esquerdo com os 200ml do direito. Perceberam? Agore, imagine ela sem maquiagem de efeito nas maças do rosto, busto e na coxa. #venenosas #montadíssima

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Direto da faixa liberada da Ponta Negra, Scarlett Johansson, com vestido estampado típico das emergentes do bairro, só se salvou pelo cabelo e make modernos.

89th Annual Academy Awards, Arrivals, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

Fechando os destaques o galã, Mel Gibson, mais vovô do que nunca, com suas rugas craquelê pode ter perdido a elasticidade da pele, mas não se deixou corromper pela tirania dos procedimentos de beleza. Parabens pela atitude e o eterno charme.

mel-gibson-red-carpet

* Está coluna é uma criação coletiva de ficção. Trabalhamos com humor e irreverência afim de proporcionarmos uma reflexão colateral em torno da moda, mídia e linguagens.

ENSAIOS ECOPOIÉTICOS

26 fev

Imprevistos carnavalescos no processo de pesquisa

Por Adriano Rodrigues | Daiana Gualberto | Rafael Lopes

foto-selfieSábado de carnaval. Sambódromo. Manaus. Noite. Dri, Dai e Rafa. Saímos com o intuito de matar três coelhos com uma cacetada só (que malvados!). Afinal, contando com um grupo de pesquisa enxuto é fundamental otimizar os trabalhos para pôr em prática tantas ideias (que produtivistas!). Nessa noite éramos três. Nossos objetivos eram: 1) postar imagens e vídeos nas redes sociais do MIMO durante o desfile das escolas do grupo especial, a fim de valorizar essa importante expressão cultural; 2) Entrevistar pessoas transgêneras, a partir de um roteiro de perguntas que serviria de base para uma reportagem sobre o cenário “fashion-trans” e que ainda; 3) Forneceria dados para a elaboração de um artigo científico sobre o poder da roupa para a afirmação da identidade de transexuais, travestis e transformistas. Bem básico (que ambiciosos!).

Tudo isso foi pensado assim, porque hipoteticamente, com base em experiências do “achismo” (entre outras preconcepções), teríamos à disposição – na passarela do samba – dezenas de personagens que facilmente se enquadrariam em nossa pauta. Com celular e bloco de papel em punho e uma câmera fotográfica (semiprofissional, emprestada de última hora, né queridinhos!) aterrissamos no sambódromo, convictos de que arrasaríamos em evolução e harmonia na nossa primeira experiência de campo para o MIMO.

A tentativa frustrada do primeiro clic fotográfico, ainda na fila de entrada, foi o primeiro sinal de que as coisas já estavam saindo do planejado. “Bom, vejamos! Como será que essa câmera funciona? Não seria só apertar aqui? Mas, esse menu está bem complicado… Vamos tentar assim. Espera! Quem sabe dessa outra maneira…” Dez minutos depois, decidimos deixar no automático (mas, nem sempre o automático funcionou!). Até agora não sabemos se realmente era o modo automático da câmera.

teste-da-maquina

Quando chegamos, a primeira escola a se apresentar já havia iniciado o desfile e, como não tínhamos credenciais de imprensa nem acesso aos camarotes, circulamos pelos setores públicos. “Mas, onde estão nossas personagens? Tudo parece tão vazio”. Em algumas arquibancadas era possível contar o número de pessoas. “Deve ser porque ainda é cedo”. Resolvemos começar a postar algumas imagens da festa, mas começávamos a nos preocupar em como encontrar as pessoas transgêneras. “Será que esse ano boicotaram a festa?”

Aos poucos começamos a perceber algumas pessoas que poderiam se adequar ao perfil que buscávamos, outras geravam dúvidas: “Será que é? Como abordar sem ser invasivo? Não havíamos pensado nisso, né gente. E agora?”. Entre dúvidas e inseguranças resolvemos arriscar. Começamos a nos aproximar explicando que éramos do MIMO, um grupo de pesquisa da UFAM, estávamos fazendo um trabalho sobre moda e diversidade de gênero e gostaríamos de entrevistá-las.

Todas as pessoas abordadas foram extremamente atenciosas e se mostraram bastante abertas a participação, autorizando a divulgação alexandrede suas imagens e depoimentos. Entretanto, logo na primeira entrevista percebemos que o local não proporcionava um ambiente ideal para o tipo de roteiro elaborado, que acabou ficando um pouco longo. Tanto que reduzimos pela metade as dez entrevistas previstas inicialmente.  A música, o ruído e o trânsito de pessoas ao redor interferiram no encadeamento do processo, que não pode ser aprofundado ou não teve a atenção merecida em função da relevância social do tema e da riqueza das histórias vida de nossas personagens. Mesmo assim, muitas respostas
surpreenderam e nos deram pistas interessantes, tanto sobre a situação social, familiar e de auto-imagem, quanto à questões relativas ao mercado de roupas para transgêneros em Manaus (sim, este último aspecto vai virar uma reportagem que veicularemos nos próximos dias).

Perto da meia-noite a vibração e o colorido das arquibancadas em nada lembrava o início da noite. Em alguns setores não havia mais espaços. Começamos a imaginar até outras possibilidades de reportagem (nos vícios clichês do jornalismo factual) desde os ambulantes e vendedores, os corpos sarados das rainhas de bateria, os turistas estrangeiros e seu gingado em desequilíbrio, até a análise dos desfiles das escolas de samba etc. Mas, nossa proposta é trazer algo diferente, um olhar que os meios de comunicação tradicionais não exploram. Por isso, decidimos apresentar o relato de nossa experiência. Que é único e não será mostrado em nenhuma outra mídia!

Já estávamos exaustos de tanto caminhar. Rodamos mais que mestre-sala e porta-bandeira. Pés inchados, make derretida, cabelos deploráveis. Contudo, ainda fizemos mais algumas postagens para as redes sociais da internet, fotografamos outras personagens (sem entrevistá-las), sentamos para descansar e lanchamos (saindo da dieta, com direito a hot-dog, refrigerante e batata frita).

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Ufa! Vencemos essa. A apoteose nem sempre significa conquistar o campeonato. Foi preciso adaptar nossa estratégia inicial, mas não deixamos de realizar nossa proposta. Houve frustrações e até mesmo dificuldade em reconhecer nossos próprios limites e preconceitos. Mas, acreditamos que foi uma experiência de aprendizagem no processo de pesquisar e ajudará a planejarmos melhor outras saídas de campo. Afinal, equívocos e surpresas também fazem parte do percurso.

Aspectos e impressões mais detalhados sobre nossa incursão transdisciplinar entre moda, gênero sexual e carnaval serão tratadas em nosso artigo científico sobre o assunto. Ainda não sabemos quando será concluído, tampouco divulgado, pois não temos pressa em amadurecer a ideia. O enredo pede mais alegorias e adereços. E nosso samba ainda precisa entrar no ritmo da bateria!

MODA & CIÊNCIA

24 fev

 MIMO está de volta: de frente, verso e pelo avesso

Moda combina com ciência? Não só combina como é de ótimo tom e dá muito pano pra manga! Com esse entusiasmo, o MIMO, Grupo de Pesquisa em Mídia, Moda e Linguagens, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas, retorna às atividades repleto de novidades para 2017.

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O MIMO é um grupo de pesquisa pioneiro no estado do Amazonas nos estudos sobre as relações entre a moda, a mídia, as linguagens e expressões humanas. Criado em 2010 pelo Prof. Dr. Gilson Vieira Monteiro, propõe um jeito diferente de fazer ciência. “O grupo de pesquisa pode transformar a universidade no espaço das expressões livres, relações humanas de liberdade com respeito ao que deve ser a vida em sociedade”, explica o líder do grupo.

Neste ano o grupo traz uma série de novidades que serão apresentadas com mais detalhes nas próximas semanas. Por enquanto, o que se pode adiantar é que as atividades entre a pesquisa científica e as ações práticas de mídia estarão ainda mais integradas. A ideia e fortalecer as redes e o relacionamento com quem está envolvido com o setor da moda, desde as pesquisas com novos materiais para indústria têxtil, gestão comercial de pequenas confecções ao oba-oba fashion.

A diversidade e a liberdade de expressão vão pautar os trabalhos. “Estudar moda é colocar a moda em outro universo além do fashion, é trabalhar a moda como um campo de estudo. A moda não apenas como fashion, mas como um jeito de fazermos ciência em conjunto aliando a teorias, pesquisas e práticas das linguagens e expressões humanas, para dessa forma ajudar a levantar o papel da própria moda na região”, salienta Gilson Monteiro.

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E é no ritmo de carnaval que o MIMO retoma às atividades. Estaremos acompanhando o desfile das escolas de samba do grupo especial de Manaus, direto do sambódromo. Comentando os looks, mostrando os bastidores e curiosidades da festa mais popular do Brasil. Fique por dentro, acompanhe nossas redes sociais: @mimoufam

Ciclo de Palestra MIMO.COM 2013

20 abr

Iniciamos mais um Ciclo de Palestra MIMO.COM.Na última terça-feira a jornalista do Bom dia e mimosa Paula Lobão esteve presente para falar da influência das roupas nos telejornais.

Confiram algumas fotos da palestra no Fan Page do MIMO: [https://www.facebook.com/media/set/?set=a.484431424946196.1073741826.225832460806095&type=3]

7564_481419928580679_1734947272_n (1)

Grupo MIMO de Teatro

20 abr

581728_434982709916400_1619736722_n (1)A felicidade de mais um semestre [2012/2] cumprido do Grupo MIMO de Teatro.

Valeu gente!